Livros deveriam ter asas
Nesses tempos de Covid-19 e inúmeros conference calls, os livros nas estantes passaram a ser grandes protagonistas de lindos cenários.
Com suas lombadas coloridas, figuram muito bem e quando próximos de quem está falando, demonstram a intelectualidade do participante.
Vários títulos e múltiplos escritores habitam as estantes de forma ordenada e quantos mais unidades, mais importante parece ser o seu proprietário.
No Brasil, a maioria dos livros já é produzidas com papel certificado FSC, e isso os faz ostentar também a alcunha de sustentáveis, o que os tornam ecologicamente corretos e com todo o álibi para estarem acomodados nas estantes sem nenhuma emissão de gases de efeito estufa.
Alguns carregam um peso extra, já que seu autor ou autores tinham muito a externar; por consequência passam a ter um lugar de destaque ocupando o que seria espaço de somente um exemplar.
Com a facilidade das compras por Internet, os livros chegam em nossas casas num estalar de dedos ou sons de teclado ao digitarmos o pedido.
Quando menos esperamos, já estão tocando a campainha da porta para se somar aos demais devidamente enfileirados em sua trincheira.
Quando tudo ocorre bem, esse espécime não vai acompanhar os demais, e será foleado para entregar seu conteúdo ao leitor que o esperou ansiosamente ou que já havia esquecido de sua compra.
Alguns são tão famosos que passaram a ser falsos. Ao invés do papel são fotos que ornamentam o fundo das chamadas de vídeo, quando essas por sorte se mantem com o sinal estável. Quando não, entregam sua identidade cenográfica, ocasionando perplexidade em quem está do outro lado da tela.
Biblioteca fake? Ah….não!
Mas, ao olhar tantas lindas estantes, incluindo a que tenho em casa, passei a me questionar se deveríamos ter nossos livros estacionados.
Olho minha estante e me sinto leviano tentando mensurar a quantidade de conhecimento que esta acondicionada neste espaço. E olha que perto de outras, minha biblioteca não é grande.
Quando passo para verificá-los, vejo que muitos estão a minha espera há tempos. Novos em folha, irritantemente limpos e intocados.
Dada a importância que vejo na educação e por consequentemente na leitura, passei a considerar uma perda muito grande de ter livros parados em estantes.
Imaginem a diferença que podem fazer ao serem lidos por pessoas que se entusiasmarão pelo seu conteúdo e iniciarão mudanças em suas vidas, em suas famílias, na sociedade em geral.
Livros deveriam ter asas para chegar a quem os necessita. E quem sabe voltar as suas lindas estantes, carregados de experiencias.
Já estou adaptando asas nos meus e brevemente os verei voar chegando a pessoas queridas que sei darão um destino muito lindo aos seus conteúdos.